quarta-feira, 14 de maio de 2014

Era de aquário, saturno, ou o fim de uma fase lazarenta

Foram uma sucessão de eventos e decisões equivocadas que provocaram atraso na realização das minhas vontades. Pode ser uma sucessão de reveses que talvez já tenha me acostumado e me preparado. Pode não ser nada disso, apenas a vida. Curto dramatizar.

Mas enfim a mudança galgada realiza-se como que no seu tempo necessário e o incômodo do processo parece nunca ter existido, sempre digo isso, a partir do momento que algo para de machucar a dor é esquecida.

Despeço-me de um período de uns 5 anos (talvez maior sob outras óticas) e uma nova fase como trabalhador e a busca de um objetivo e realização segue o caminho. Como sommelier e profissional do mercado de vinhos conheci várias pessoas inesquecíveis e tive aventuras inenarráveis, e não que eu vá para longe, estou apenas do outro lado da prateleira, mas satisfeito pois é um mercado/mundo similar porém significativamente diferente, o da cerveja.

Com o vinho sentia-me numa relação desgastada, em especial no contexto cultural mercantilista brasileiro, que barra muito a concepção da cultura e savoir-vivre de origem mediterrânea, que tanto admiro e almejaria. O vinho, como cultura e objeto de trabalho, “in this brazaland way of life” tornou-se um objeto afetado de um mercado de luxo elitista que estava cansando de transitar. No dia que você vende uma garrafa ao valor de um carro popular e volta de ônibus madrugueiro “de madrugada” para casa, dá um embrulho amargo no estômago. Isso não é era de aquário, em contexto histórico e social, contemporâneo e cosmopolita.

Desculpem-me os amigos profissionais do ramo que dependem dessa faceta do mercado, mas estava me incomodando, “gozar com o pau dos outros”, sentindo o gostinho de uma realidade tão distante da minha e que na verdade nem ambiciono.

Talvez eu seja um idealista imaginar que será diferente nas gôndolas das cervejas e nas bicas de chopp, mas eu tive a impressão que o pensamento sobre o vinho ser a bebida da elite e a cerveja a bebida de trabalhadores tem muito sentido. E ouso arriscar um pensamento que o vinho é bebida de um público mais maduro e a cerveja de um público mais jovem, e muito bem-sucedido, diga-se de passagem, meus contemporâneos, meus amigos bebem muita cerveja. Alguns estão até fabricando e muitos já trabalham com “ela”.

Desculpe-me senhor Romanée-Conti, seu Dom Pérignon, Sassicaia, Vega Sicilia e tantos outros, nos encontraremos por aí (e eu espero que sim), mas o que eu quero, o que eu buscava, de agora em diante, em vez de 750 mililitros ao valor de R$ 10.000,00 eu prefiro e venderei 10.000 litros de chopp.

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